Ambientalista faz documentário sobre as praias vazias na quarentena

Foram cerca de quatro horas de voo, em dois dias, com mais de cinco mil fotografias e muitas horas de imagens aéreas feitas por cinco câmeras. O ambientalista Ernesto Galiotto sobrevoou o litoral do Estado do Rio, de Rio das Ostras ao Recreio dos Bandeirantes, na capital, para um documentário inédito, mostrando as principais praias fluminenses completamente desertas no feriado do Dia de São Jorge, por causa da quarentena do novo coronavírus.

As imagens, depois de editadas, vão formar um banco de dados sobre a realidade da costa fluminense nestes dias em que as pessoas estão proibidas de freqüentar as praias para evitar a propagação do vírus. As imagens foram feitas do mico-leão voador, sob o comando do piloto Menna, um dos dois monomotores com os quais Galiotto, empresário de Cabo Frio, fiscaliza as agressões ambientais na Região dos Lagos desde 1994.

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Praia de Copacabana / Foto: Ernesto Galiotto

— É uma situação inédita. Jamais poderia imaginar que um dia veria estas praias vazias, sem pessoas e barracas. Um cenário impossível até em dias de semana, quanto mais num feriado com dia lindo. Na altura de Ponta Negra me chamou a atenção um enorme cardume de peixes que chegou a mudar a coloração da água. Não havia ninguém até mesmo nas praias desertas, um sinal de que as pessoas estão realmente com medo do vírus – disse o ambientalista, autor do livro “Natureza intacta e Agredida” e responsável por mais de 40 projetos culturais, além de restauração de prédios históricos na Região dos Lagos.

O voo do monomotor também foi facilitado por causa do reduzido tráfego aéreo até mesmo no entorno do Aeroporto Santos Dumont, no Rio.

— A quarentena é muito triste para a economia, sobretudo para a atividade turística, para o emprego e renda, mas está sendo boa para a natureza. Que esta realidade sirva no futuro para que as pessoas não joguem plásticos e outros detritos nas praias e parem, com uma nova consciência, de agredir a natureza – apelou Galiotto.

Professor de Direito Ambiental e analista do ICMBio, Rogério Rocco observou que a quarentena está permitindo o retorno da fauna às regiões costeiras do Estado do Rio:

— É um indicador importante que comprova a resiliência, a capacidade da natureza se readaptar a um novo ambiente. Com a presença humana, a fauna se afastou devido aos riscos da aproximação das pessoas. A qualidade da água melhorou, principalmente na Baía da Guanabara, com a diminuição da atividade turística e da navegação.  A quarentena, contudo, não eliminou a contaminação por esgotos, que é a mais grave. A taxa de tratamento de esgotos nas nossas cidades é muito pequena e ainda existem muitos lixões lançando chorume na águas – lamentou o ambientalista.

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Praia do Peró / Foto: Ernesto Galiotto

Para o professor, o período da pandemia, cujo fim ainda não está previsto, deixará lições para a humanidade, sobretudo na preservação do meio ambiente:

— A quarentena está dando a todos nós indicadores que fortalecem nossa compreensão quanto à necessidade de mudanças de hábitos para a melhoria da qualidade de vida. Nós podemos, com a ação humana, recuperar áreas degradadas e diminuir os impactos contra a natureza para que possamos, também, assegurar estas condições para as futuras gerações – concluiu Rocco.

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Paulo Araújo
Paulo Roberto Araújo fez sua carreira profissional no jornal O Globo. Prêmio CREA de Meio Ambiente, foi repórter e depois editor assistente (chefe de reportagem) da Editoria Rio durante 25 anos, com atuação voltada principalmente para o meio ambiente e o interior do Rio.