ANGRA LANÇA CAMPANHA “SALVEMOS A LORETTI”

Patrimônio da história do sistema penal, da navegação e da Ilha Grande, a lancha Tenente Loretti está apodrecendo há oito anos num estaleiro de Angra dos Reis. Requisitada à Marinha para transportar presos, muitos deles políticos, do Rio para o Presídio Cândido Mendes, a embarcação serviu à Defesa Civil para salvamentos marítimos e à população da Ilha Grande depois que o presídio foi implodido por ordem do então governador Leonel Brizola. Sem manutenção adequada nos motores, a Loretti acabou afundando, em março de 2014, no cais Santa Luzia, no Centro de Angra dos Reis. Foi içada e desde em tão está guardada na Marinha Verolme.

A luta para recuperar a lancha, que tem 110 anos, começou pelo seu mestre, Constantino Cocotós, que também comandava a Defesa Civil na Ilha Grande. Ele morreu, em 2013, sem realizar o sonho de ver a Loretti num museu a céu aberto na Vila do Abraão. A pedido da comunidade, o nome de Cocotós foi eternizado no Centro Cultural da Ilha Grande. Há oito anos, a então prefeita Conceição Rabha prometeu recuperar a embarcação, a mesma promessa feita no ano passado por Fernando Jordão, que foi reeleito e é o atual prefeito de Angra dos Reis. Sem solução à vista, o fundador da Associação de Canoagem Oceânica de Angra dos Reis (ACOAR), Marcelo Lopes lançou a campanha “Salvemos a Loretti”, com apoio de moradores da Ilha Grande, de empresários e de parentes do falecido Constantino.

— A Loretti teve uma importância fundamental para o transporte de presos e depois para salvamentos na Ilha Grande. Era uma embarcação moderna para a época por causa do seu modelo, com proa alta, extremamente segura para enfrentar as ondas em mar aberto. Somente ela entrava em Dois Rios, onde ficava o presídio. É preciso recuperar o madeiramento e partes de metal. Estamos buscando emendas parlamentares e ajuda de um pool de empresas para recuperar a lancha e transformá-la num museu na Vila do Abraão, como era o sonho de Cocotós – disse Marcelo Lopes.

Numa das operações de salvamento, o mestre da Loretti recebeu um SOS do Iate Tamarind, que estava ancorado, durante uma tempestade, na Baía da Ilha Grande. Foi no dia 12 de março de 1970. Os três náufragos, que estavam nas pedras após o naufrágio da pequena lancha de apoio que usavam para pescar, foram resgatados e levados de volta para o Tamarind. Um deles era o jornalista Roberto Marinho, fundador da Rede Globo, que tinha como hobby a pesca submarina (mergulhou até aos 84 anos) e era proprietário do iate. Dois dias depois, ele voltou à Vila do Abraão para abraçar e agradecer a rápida ação de Cocotós e sua equipe.

— Além de trazer presos do Rio, na época da ditadura, a lancha também levava os detentos para audiências em Angra dos Reis. Transportava mantimentos para o presídio e, após a implosão, além de atuar em salvamentos, ia imponente na frente da procissão marítima do padroeiro da Ilha Grande, São Sebastião – recorda Marcelo Lopes.

Em março de 2019, a vereadora Titi Brasil fez o primeiro pedido à prefeitura para recuperar a Tenente Loretti “para manter a história viva”. Presidente da Associação dos Condomínios da Costa Verde, Manoel Francisco de Oliveira informou que há um grupo de empresários dispostos a transformar a Loretti em museu em atenção à cultura e ao turismo da região da Costa Verde.

— Para isso, contudo, a prefeitura de Angra precisa apresentar um projeto de recuperação, a titularidade e o destino que pretende dar à lancha após a reforma – explicou.

Construída em 1910, a Loretti, que tem 20 metros de comprimento, foi cedida pela Marinha ao governo do Estado do Rio em 1937. Até 1960, ela transportou mercadorias, criminosos e presos políticos como Castor de Andrade, Mariel Mariscot, Madame Satâ, Escadinha, Lúcio Flávio, Natal da Portela, Carlos Imperial, Graciliano Ramos e Fernando Gabeira. Há um ano, o então presidente da Companhia de Turismo de Angra dos Reis, João Willi, estimou em R$ 100 mil o custo para recuperar a lancha, inclusive com material que permita deixá-la em exposição a céu aberto. Fernando Jordão prometeu buscar recursos federais para salvar a lancha, mas a ajuda ainda não chegou.

 ANGRA LANÇA CAMPANHA

“SALVEMOS A LORETTI”

Patrimônio da história do sistema penal, da navegação e da Ilha Grande, a lancha Tenente Loretti está apodrecendo há oito anos num estaleiro de Angra dos Reis. Requisitada à Marinha para transportar presos, muitos deles políticos, do Rio para o Presídio Cândido Mendes, a embarcação serviu à Defesa Civil para salvamentos marítimos e à população da Ilha Grande depois que o presídio foi implodido por ordem do então governador Leonel Brizola. Sem manutenção adequada nos motores, a Loretti acabou afundando, em março de 2014, no cais Santa Luzia, no Centro de Angra dos Reis. Foi içada e desde em tão está guardada na Marinha Verolme.

A luta para recuperar a lancha, que tem 110 anos, começou pelo seu mestre, Constantino Cocotós, que também comandava a Defesa Civil na Ilha Grande. Ele morreu, em 2013, sem realizar o sonho de ver a Loretti num museu a céu aberto na Vila do Abraão. A pedido da comunidade, o nome de Cocotós foi eternizado no Centro Cultural da Ilha Grande. Há oito anos, a então prefeita Conceição Rabha prometeu recuperar a embarcação, a mesma promessa feita no ano passado por Fernando Jordão, que foi reeleito e é o atual prefeito de Angra dos Reis. Sem solução à vista, o fundador da Associação de Canoagem Oceânica de Angra dos Reis (ACOAR), Marcelo Lopes lançou a campanha “Salvemos a Loretti”, com apoio de moradores da Ilha Grande, de empresários e de parentes do falecido Constantino.

— A Loretti teve uma importância fundamental para o transporte de presos e depois para salvamentos na Ilha Grande. Era uma embarcação moderna para a época por causa do seu modelo, com proa alta, extremamente segura para enfrentar as ondas em mar aberto. Somente ela entrava em Dois Rios, onde ficava o presídio. É preciso recuperar o madeiramento e partes de metal. Estamos buscando emendas parlamentares e ajuda de um pool de empresas para recuperar a lancha e transformá-la num museu na Vila do Abraão, como era o sonho de Cocotós – disse Marcelo Lopes.

Numa das operações de salvamento, o mestre da Loretti recebeu um SOS do Iate Tamarind, que estava ancorado, durante uma tempestade, na Baía da Ilha Grande. Foi no dia 12 de março de 1970. Os três náufragos, que estavam nas pedras após o naufrágio da pequena lancha de apoio que usavam para pescar, foram resgatados e levados de volta para o Tamarind. Um deles era o jornalista Roberto Marinho, fundador da Rede Globo, que tinha como hobby a pesca submarina (mergulhou até aos 84 anos) e era proprietário do iate. Dois dias depois, ele voltou à Vila do Abraão para abraçar e agradecer a rápida ação de Cocotós e sua equipe.

— Além de trazer presos do Rio, na época da ditadura, a lancha também levava os detentos para audiências em Angra dos Reis. Transportava mantimentos para o presídio e, após a implosão, além de atuar em salvamentos, ia imponente na frente da procissão marítima do padroeiro da Ilha Grande, São Sebastião – recorda Marcelo Lopes.

Em março de 2019, a vereadora Titi Brasil fez o primeiro pedido à prefeitura para recuperar a Tenente Loretti “para manter a história viva”. Presidente da Associação dos Condomínios da Costa Verde, Manoel Francisco de Oliveira informou que há um grupo de empresários dispostos a transformar a Loretti em museu.

— Para isso, contudo, a prefeitura de Angra precisa apresentar um projeto de recuperação, a titularidade e o destino que pretende dar à lancha após a reforma – explicou.

Construída em 1910, a Loretti, que tem 20 metros de comprimento, foi cedida pela Marinha ao governo do Estado do Rio em 1937. Até 1960, ela transportou mercadorias, criminosos e presos políticos como Castor de Andrade, Mariel Mariscot, Madame Satâ, Escadinha, Lúcio Flávio, Natal da Portela, Carlos Imperial, Graciliano Ramos e Fernando Gabeira. Há um ano, o então presidente da Companhia de Turismo de Angra dos Reis, João Willi, estimou em R$ 100 mil o custo para recuperar a lancha, inclusive com material que permita deixá-la em exposição a céu aberto. Fernando Jordão prometeu buscar recursos federais para salvar a lancha, mas a ajuda ainda não chegou.

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Paulo Roberto Araújo fez sua carreira profissional no jornal O Globo. Prêmio CREA de Meio Ambiente, foi repórter e depois editor assistente (chefe de reportagem) da Editoria Rio durante 25 anos, com atuação voltada principalmente para o meio ambiente e o interior do Rio.