Brasil precisará de energia renovável para evitar apagão

Com o esgotamento da capacidade de geração hidrelétrica, praticamente implantada em todos os rios brasileiros com esse potencial, o Brasil precisará ampliar as fontes renováveis na sua matriz energética para evitar apagões em futuro não distante.

Embora o consumo nacional de eletricidade tenha caído cerca de 6% de janeiro a junho deste ano, em relação ao mesmo período de 2019, segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o País precisará ampliar a oferta energética para evitar apagões futuros, considerando que a economia voltará a crescer após a pandemia da Convid-19. “Nesse sentido, será fundamental explorar de modo eficiente as fontes renováveis”, salienta Luiz Gonzaga, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos e Efluentes (Abetre).

Ele cita o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE), lançado em fevereiro último pelo Governo Federal, que prevê, em 2029, ser necessária oferta de 380 milhões TEP (milhões de toneladas equivalentes de petróleo), representando crescimento de 2,9% ao ano, para movimenta a economia nacional. Corroborando a expectativa da Abetre, o PDE enfatiza que as fontes renováveis podem chegar à participação de 48% do total. “Isso manteria nosso país em conformidade com o compromisso firmado no Acordo de Paris, de reduzir a emissão de carbono e promover maior participação de renováveis na matriz energética”, observa o presidente da entidade.

Iniciativa nesse sentido é a Frente Brasil de Recuperação Energética de Resíduos (FBRER), criada pela Abetre, juntamente com a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), Associação Brasileira do Biogás (ABiogás) e Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE). “Já estamos trabalhando para explorar todo esse potencial energético alternativo”, ressalta Luiz Gonzaga.

O executivo cita dados do “Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2018/2019”, publicado pela ABRELPE: foram geradas cerca de 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos, cujo volume tem potencial de produzir 14.500 GWh/ano de energia elétrica por processos de tratamento térmico. Esse total representa cerca de 3% do consumo nacional, ou o suficiente para abastecer todo o Estado de Pernambuco ou Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas juntos. Considerando ainda a necessidade de avanços no sistema de destinação de resíduos por parte dos municípios, além dos processos de tratamento térmico, o Brasil também comporta processos de tratamento biológico, pelos quais há um potencial adicional de geração de energia elétrica de 1.400 GWh/ano.

Um estudo realizado em parceria entre a ABiogás e a Abrelpe constatou que cerca de 50% do total de resíduos sólidos urbanos gerados no País correspondem à fração orgânica, o que representa um enorme potencial para o aproveitamento energético por meio do biogás. Contudo, pouco mais da metade desse material é destinado para aterros sanitários, onde poderia haver o aproveitamento energético. Quase 80% do biogás produzido hoje no Brasil são oriundos de resíduos de aterros sanitários e estações de tratamento de esgoto.

Para aperfeiçoar a recuperação energética, será necessário erradicar quase três mil lixões, que acarretam graves danos ambientais, e substituí-los por aterros sanitários regionais. Esses novos empreendimentos podem ser construídos de modo a atender dois ou mais municípios próximos, com ganho de produtividade e escala, proporcionando inúmeros benefícios ao meio ambiente. “Avanço para a desmobilização dos lixões é o novo Marco do Saneamento, sancionado este ano, que possibilitará a participação da iniciativa privada nas licitações dos serviços de coleta, tratamento e transporte dos resíduos sólidos e a sua cobrança, o que é coerente, pois são uma utilidade nos mesmos moldes da luz, água, telefonia e internet”, pondera Luiz Gonzaga.

Além de contribuir para o incremento da oferta energética, a geração de energia a partir dos resíduos sólidos beneficia todo o sistema de destinação praticado no País que ainda é bastante deficitário. Atualmente, o Brasil conta com um grande percentual (40%) de resíduos coletados com destinação em unidades inadequadas, e poucas iniciativas para recuperação dos materiais (reciclagem não supera 4%).

Investimentos e ganhos ambientais
Com investimentos que podem chegar a R$ 15 bilhões a partir da implantação de diferentes tecnologias, o processo de recuperação energética de resíduos proporcionará, também, a redução da geração de chorume nas unidades de disposição final; redução da geração de gases de efeito estufa, mitigando a emissão de 90 mil toneladas/ano de CO2 equivalente na atmosfera para cada mil toneladas de lixo tratadas, comparável com a emissão de cinco mil carros; e aumento da reciclagem de materiais contidos nos resíduos sólidos urbanos, a partir da melhor seleção ou separação, com a consequente preservação dos recursos naturais.

Luiz Gonzaga, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos e Efluentes (Abetre), está disponível para entrevista. Caso tenha interesse, por favor, entre em contato.

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