Como construímos a nuvem de um país

Por Cyrano Rizzo*

Quando surge a necessidade de fazer uma grande mudança de ordem tecnológica em qualquer área de uma empresa, é comum encontrarmos resistência de uma ou mais pessoas. Se a adoção da nuvem estiver em pauta, então, a coisa pode complicar um pouco mais – por mais que o seu TI seja o mais treinado do mundo, com profissionais experientes e capacitados para esclarecer e facilitar a migração, se os setores com poder de decisão (como financeiro e diretoria) não estiverem seguros, vai ser difícil promover qualquer mudança. Agora, e quando o governo de um país percebe as vantagens do cloud computing e resolve encarar uma transformação digital em larga escala? Pois essa é a realidade do Panamá, e nós vivenciamos a experiência de prover ao governo local uma nuvem baseada em um padrão de infraestrutura dedicada, bem diferente dos principais provedores de cloud em atividade no mercado.

Num primeiro momento, para quem não é familiarizado com o nosso business, pode parecer complexo e até mesmo impossível executar uma tarefa dessa magnitude. Mas, na prática, o processo de implantação dos serviços de cloud computing em uma estrutura governamental não difere muito do que acontece em uma empresa privada. Isso porque cada país, assim como qualquer empresa, é um universo único, com suas características, requisitos, restrições, expectativas e recursos. E como numa empresa, nós levamos em conta todos esses fatores ao conceber um projeto. Também percebemos que, assim como acontece nos clientes da iniciativa privada, a esfera governamental também se depara com desafios ao ingressar nessa jornada, sendo o principal deles a dificuldade em adotar uma solução legada para nuvem. Tradicionalmente, os profissionais estão aculturados na realização da maioria dos processos de maneira manual, passando por muitos passos burocráticos até seu efetivo provisionamento. Esses processos manuais trazem, na verdade, uma falsa sensação de segurança, já que dificultam a padronização, orquestração e adaptação de processos sob demanda.

Os gestores da esfera governamental, de modo geral, ainda não têm uma visão clara dos benefícios da adoção da computação em nuvem, por isso é preciso engajar e educar este público. Sem dúvida alguma, o principal benefício da nuvem é a economia, tanto no aspecto de uso de recursos computacionais, quanto no de recursos humanos. Pensando o aspecto técnico, com a adoção de processos orquestrados de autoprovisionamento e de acordo com a necessidade instantânea, um conjunto menor de recursos pode atender a uma demanda maior se comparado ao modelo convencional de computação, que são dimensionados pelo pico de consumo de recursos (é sempre importante ter em mente que na nuvem os recursos são dimensionados pelo mínimo, e auto escalam de acordo com a demanda momentânea). E pensando na esfera de recursos humanos, soluções legadas e estáticas, via de regra, são construídas de maneira que cada servidor ou aplicação tenha vida própria e, assim, precisam de cuidados direcionados – na prática, isso quer dizer que necessitamos de muito mais hora/homem para garantir seu funcionamento e segurança. 

Vale citar que a resistência à nuvem é permeada pelo medo em relação aos riscos operacionais. O primeiro ponto que merece atenção é a legislação e o modelo a ser implantado. No caso do Panamá, desenhamos uma nuvem gerenciada, que é recomendada não só para o poder público, como também para as grandes corporações, por atender a questões legais sem impor altos custos de recursos humanos, que passam a ser destinados para manter as aplicações inerentes às atividades governamentais. Além disso, é preciso pensar na latência, ou seja, no tempo de resposta da rede em relação à distância entre a nuvem e o cliente. No caso do Panamá, que não conta com nuvens públicas em seu território, fizemos a implementação nas dependências do cliente, já que algumas aplicações são muito sensíveis à latência.

Por fim, quando falamos em uma nuvem gerenciada para um órgão governamental, é importante ter em mente que não há um tempo padrão para a migração, pois isso dependerá diretamente do tipo de aplicação, do volume de dados e da disponibilidade de eventuais janelas. Na metodologia que seguimos – e que foi aplicada à nuvem do Panamá -, buscamos auxiliar a mitigar e a reduzir os riscos, o que refletiu diretamente na redução de custos e na satisfação dos usuários. Nesse processo, realizamos todos os cálculos relativos às estimativas de custos, para evitar surpresas, e também realizamos inúmeras interações entre a nossa equipe técnicas de especialistas em nuvem e a equipe técnica do cliente que suporta a operação, resultando em um mapa do que há em execução no cliente e em um plano bem elaborado de migração.

* Cyrano Rizzo é CTO da Binario Cloud

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