Conflitos políticos e ideológicos carecem de diálogo

Em universidades, a disseminação de ideias liberais vem gerando conflitos. Para Students For Liberty Brasil, silenciamento é censura

A ascensão de ideias liberais em universidades públicas e privadas do Brasil vem gerando disputa por espaços de fala. Nos últimos anos, jovens liberais vêm se sentindo silenciados enquanto buscam por diálogo. “Diante de ideias divergentes, é preciso acalmar os ânimos, sentar e conversar – e até mesmo educar uma das partes, se for preciso. E não restringir o espaço ou tempo de fala, em tentativa de silenciar o outro. A cultura do cancelamento prejudica qualquer debate, especialmente o debate político”, manifesta André Migliore Freo, 24, Diretor Executivo do Students For Liberty Brasil (SFLB).

Em ascensão desde 2015, o movimento liberal no Brasil conta hoje com 101 grupos ligados ao SFLB em universidades, formados por jovens estudantes. “Muitos passam por situações hostis dentro das universidades e carregam consigo um sentimento de indignação”, aponta Freo, que em 2016 sofreu retaliação por se manifestar contra uma greve de professores quando cursava Direito na Universidade Federal de Santa Maria (RS).

“A greve foi em protesto à emenda que estabeleceu um teto de gastos públicos. Em meu Facebook, me posicionei contra o sindicato e contra a reitoria, que a meu ver estava sendo passiva”, explica Freo. Ao ler tal posicionamento, uma de suas professoras acionou a direção do curso, que soltou uma nota dizendo que Freo havia se excedido em sua liberdade de expressão. “Infelizmente, casos como esses são comuns em universidades, afetando estudantes que não comungam com ideias esquerdistas” aponta o hoje Diretor Executivo do SFLB.


Perigos da cultura do cancelamento

O Students For Liberty Brasil entende que o movimento de calar discursos contrários aos próprios interesses, cada vez mais comum no Brasil, é uma evolução da definição tradicional de censura, exercida por censores de Estado desde a Roma antiga. Esse posicionamento gera cada vez maior julgamento descentralizado e constante por parte de qualquer pessoa ou instituição que se sinta ofendida por uma opinião diferente da sua. Para a organização, a marca de uma sociedade livre é o debate de ideias, e só há liberdade quando há a possibilidade de discordância.

“Há muitos perigos em normalizar a cultura do cancelamento e da ausência de diálogo, inclusive por conta de julgamentos que podem resultar em risco até mesmo para a vida de quem é erroneamente acusado, e isso não é positivo para ninguém. Todos têm o direito de se manifestar, e quem discordar deve recorrer ao diálogo respeitoso – mesmo que com a intenção de orientar ou convencer do contrário. Rodas de conversa e debates com especialistas são movimentos importantes para que quem está fora da discussão também possa ouvir ambos os lados e se educar”, pontua Freo.