Tesouro IPCA+ x Tesouro Selic: qual a melhor opção com inflação e juros em alta?
O mercado financeiro projeta que 2024 termine com a taxa básica de juros (Selic) maior do que a esperada no começo do ano e com a inflação mais apertada (próxima do teto da meta de 4,5%). Segundo o último Relatório Focus, a Selic deve fechar em 11,50% e o IPCA em 4,37%.
Esses números impactam diretamente nos cupons e rendimentos dos títulos públicos, especialmente quando os agentes de mercado reveem suas projeções e indicadores. Um exemplo disso foi o recente ajuste da taxa básica de juros de 10,50% para 10,75%. Novos aumentos são esperados para os próximos dois encontros do ano.
Diante desse cenário, o Tesouro IPCA+ 2035, principal título de inflação do Tesouro Direto, teve sua marcação de cupom aumentada de 5,34% em janeiro para os atuais 6,38% (com um pico de 6,58% em julho). Por outro lado, o Tesouro Selic não apresenta oscilações dessa natureza, pois seu prêmio adicional ao rendimento é muito baixo, não chegando a 0,20%.
O InfoMoney consultou especialistas para entender como o investidor deve escolher a melhor opção para alocar o seu dinheiro diante desse cenário.
De acordo com Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, as principais considerações devem ser sobre o tempo de investimento e o nível de oscilações que o investidor está disposto a correr.
Embora Tesouro Selic e Tesouro IPCA+ sejam títulos públicos, suas características fazem do Tesouro Selic um papel mais conservador e menos volátil em termos de rendimento e preço. Já o Tesouro IPCA+ passa por correções diárias de preço e prêmio, refletindo qualquer mudança na projeção de juros e inflação nos pagamentos desses títulos.
Com as diferentes mudanças de perspectivas para juros e inflação no ano, o rendimento do Tesouro Selic em 2024 superou o do Tesouro IPCA+. O índice IMA-S, da Anbima, que acompanha os títulos do Tesouro Selic, registrou uma valorização de 8,1% no ano, enquanto o IMA-B, que acompanha os títulos do Tesouro IPCA+, teve uma variação anual de 1,07%.
Porém, esse cenário não se aplica ao longo prazo. Em um horizonte de dez anos, o índice IMA-B (Tesouro IPCA+) da Anbima registra uma valorização superior à das principais referências do mercado. De setembro de 2014 a setembro de 2024, o IMA-B se valorizou 180,75%, enquanto o IMA-S teve uma alta de 143,76%. No mesmo período, a alta do Ibovespa (referência de ações) foi de 132,48%.
Grazzielle Feilstrecker, sócia da The Hill Capital, destaca que o prazo de investimento é a resposta. O Tesouro Selic é a escolha da especialista para investimentos curtos, de até dois anos, oferecendo segurança, liquidez, baixa volatilidade e bom rendimento em um cenário de juros altos. Já para médio e longo prazo, o Tesouro IPCA+ é o mais indicado, protegendo contra a inflação e assegurando o valor de compra do dinheiro no futuro.
Em resumo, a escolha entre Tesouro IPCA+ e Tesouro Selic depende do perfil e do prazo do investidor, além das perspectivas futuras para juros e inflação. Ambos os títulos têm suas vantagens e desvantagens, e a decisão final deve ser baseada em uma análise criteriosa do cenário econômico e das metas financeiras individuais.