Mudanças climáticas podem atrasar igualdade de gênero em 20 anos, projeta BCG

Inclusão de mulheres na economia verde pode render US$ 1,5 trilhão ao PIB global e evitar 1,5 gigatonelada de CO2 por ano na atmosfera, o equivalente ao total de emissões de Indonésia, África do Sul e Brasil somados

Se as ações contra as mudanças climáticas não forem adaptadas por governos e empresas para incluir mais mulheres, a igualdade de gênero plena só deve ser alcançada daqui a 155 anos, 20 a mais do que a previsão inicial de 135 anos do Fórum Econômico Mundial. A conclusão é de um estudo recente do Boston Consulting Group (BCG), que diz que mulheres são mais vulneráveis às consequências diretas e indiretas do aquecimento global do que os homens.

Para o BCG, o agronegócio, STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática, em português) e o empreendedorismo sustentável devem ser priorizados na inclusão de mulheres. A consultoria projeta que a maior representatividade das mulheres nessas áreas evitaria a emissão de 1,5 gigatonelada de CO2 por ano na atmosfera — quantidade igual às emissões anuais totais combinadas da Indonésia, África do Sul e Brasil –, e faria o PIB global crescer na ordem de US$ 1,5 trilhão por ano, equivalente a 1,7%.

Isso aconteceria por três motivos principais. Primeiro, investir em mulheres agricultoras poderia aumentar a produtividade e rentabilidade das colheitas, principalmente em países de renda média e baixa. Hoje, elas representam 43% dos trabalhadores no setor. Um estudo do Banco Mundial concluiu, por exemplo, que mulheres procuram alternativas mais sustentáveis para o uso da água, buscam novas maneiras plantar as colheitas e que o envolvimento delas nas decisões resultam em usos mais sustentáveis da terra.

Em segundo lugar, investir na igualdade de gênero e no empreendedorismo verde geraria empresas mais rentáveis e novos empregos.

Por último, uma pesquisa da Clinton Global Initiative aponta que as mulheres investem 90% de sua renda em suas famílias, em comparação com 35% dos homens. Globalmente, isso reduziria o nível de desigualdade e geraria valor para o PIB dos países.

O cenário negativo pode ser evitado com ações coordenadas em duas frentes. Primeiro, é preciso promover mais igualdade de oportunidades e capacitação nos empregos gerados pela economia verde. Das 67 milhões de vagas que devem ser abertas até 2030 na área, as mulheres representariam apenas 25% se a atual distribuição de gênero fosse seguida.

Já a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que a transição energética exigirá a requalificação de 20 milhões de trabalhadores até 2030, e as mulheres são sub-representadas nos setores onde esses esforços devem se concentrar, como o de energia, onde são 23% da força de trabalho, construção (31%), indústria (21%) e engenharia (25%).

A outra frente de atuação é nos investimentos e oportunidades na economia verde, principalmente nas startups. Entre 2013 e 2019, os investimentos em startups no setor climático aumentaram em média 84% por ano e atingiram valor de mercado de US$ 16,3 bilhões em 2019. Contudo, apenas 15% dos investimentos foram para empresas com pelo menos uma mulher fundadora naquele ano. Além de ser um número baixo, é inferior à média de 20% das startups de outros setores.

O estudo completo pode ser acessado neste link .

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