Pesquisa estima dano de Helicoverpa em soja em safra de Ponta Porã, MS

Várias estratégias de manejo químico e biológico vêm sendo avaliadas como opções de controle de lagartas de Helicoverpa armigera em cultivos de soja do Brasil. Porém, tanto fatores climáticos locais, quanto as variedades e manejos empregados para o controle dessas lagartas nas diferentes áreas produtoras de soja, podem impactar a produtividade e custos de controle. Um trabalho de pesquisadores da Embrapa, publicado em novembro de 2019, estimou o nível de dano econômico dessa lagarta em fase vegetativa de soja durante a safra 2016/2017 em Ponta Porã, MS, bem como o tempo de desenvolvimento das diferentes fases do ciclo de vida do inseto nessas condições.

Conforme apontado pelos autores do estudo, a importância de se conhecer o Nível de Dano Econômico (NDE) e o Nível de Controle (NC) está no fato de que esses indicadores são estimados considerando diferentes densidades populacionais do inseto na variedade da cultura estudada, durante determinada fase do ciclo da planta, no intuito de se determinar os níveis populacionais que minimizem ou evitem danos na produtividade. Por essa razão, auxiliam as estratégias de monitoramento local com foco na sustentabilidade do sistema produtivo.

Embora os danos de produtividade causados pela presença de lagartas de H. armigera possam ocorrer nas estruturas presentes nos estágios vegetativos (cotilédones, folhas unifoliadas e hastes) e reprodutivos (folhas, vagens e grãos) das plantas de soja, estes foram mais estudados no período reprodutivo da planta, pela alegada capacidade de recuperação da planta na presença de pragas desfolhadoras no período vegetativo. Porém estudos recentes indicaram ocorrência tanto da diminuição do estande de plantas, quanto em um maior ganho de peso de instares larvais de H. armigera, quando ocorrido o consumo de estruturas vegetativas. Também foram reportadas menores produtividades da cultivar avaliada em Ponta Porã, MS, quando desfolhas mecânicas foram realizadas na fase vegetativa da planta. Por essa razão, o manejo integrado do inseto vem indicando a necessidade de se estar atento à presença de lagartas pequenas de H. armigera na fase vegetativa da planta de soja.
 
Desse modo, a partir de experimentos de campo conduzidos pela Embrapa Agropecuária Oeste, este estudo concluiu que o dano de uma lagarta pequena de H. armigera no período vegetativo da cultivar da soja BMX-Potência RR, nas condições climáticas da safra de 2016/2017 de Ponta Porã, MS, foi de 2,01 sacas 60kg/ha, equivalente a 2,16% de perda da produtividade média. O NDE estimado para essas condições foi de 2,6 lagartas pequenas/m2 e permitiu determinar o Nível de Controle (NC) de 2,2 lagartas pequenas/m2. Os tempos de desenvolvimento das fases imaturas do inseto no mesmo período da safra foram estimados por demandas térmicas e dados de temperaturas locais, e indicaram durações diferenciadas para lagarta e pupa, quando comparadas às encontradas em literatura considerando a mesma cultivar em condição controlada de laboratório.

Portanto, explica a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Maria Conceição Pessoa, “prospectar os NDE e NC, considerando perdas na produtividade por diferentes densidades populacionais do inseto em condições de safras locais diferenciadas, em que também sejam consideradas a variedade utilizada, o custo do manejo químico empregado (e taxa de mortalidade populacional) e o preço de mercado pago pela saca de soja, são informações fundamentais para a determinação desses indicadores a longo prazo e, assim, orientar o Manejo Integrado de Pragas (MIP) local”.

“Na disponibilidade de dados climáticos de determinada safra local”, complementa a pesquisadora, “a influência das temperaturas máximas e mínimas do local do cultivo no tempo de desenvolvimento das fases imaturas do inseto podem ser estimadas,  fundamentando-se também em informações de suas necessidades térmicas”. “E conhecer o tempo de desenvolvimento dessas fases”, complementa a pesquisadora Jeanne Prado, “possibilita identificar os períodos de maior disponibilidade de lagartas durante o ciclo da planta de soja, informação estratégica para também apoiar o MIP local no melhor uso dos NDE e NC estimados “.

O tema abordado e resultados obtidos neste trabalho contribuem para ações dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), especificamente para o esperado pelos ODS 2 “Fome Zero e Agricultura Sustentável – acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável”, em seu item 2.4: “até 2030, garantir sistemas sustentáveis de produção de alimentos e implementar práticas agrícolas robustas, que aumentem a produtividade e a produção, que ajudem a manter os ecossistemas, que fortaleçam a capacidade de adaptação às mudanças do clima, às condições meteorológicas extremas, secas, inundações e outros desastres, e que melhorem progressivamente a qualidade da terra e do solo”, bem como para o ODS 12 “Consumo e produção responsáveis – assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis”, em seu item 12.4: “até 2020, alcançar o manejo ambientalmente adequado dos produtos químicos e de todos os resíduos, ao longo de todo o ciclo de vida destes, de acordo com os marcos internacionalmente acordados, e reduzir significativamente a liberação destes para o ar, água e solo, para minimizar seus impactos negativos sobre a saúde humana e o meio ambiente”.

Os autores do trabalho são Maria Conceição Pessoa (Embrapa Meio Ambiente), Crébio Ávila (Embrapa Agropecuária Oeste), Jeanne Marinho-Prado (Embrapa Meio Ambiente), Geovanne Luchini (ex-bolsista PIBIC/CNPq da Embrapa Meio Ambiente; atualmente Biólogo professor na Hexag Medicina), Eunice Souza (IFMT campus Parecis, MT), Alceu Richetti (Embrapa Agropecuária Oeste) e Danilton Luiz Flumignan (Embrapa Agropecuária Oeste). Mais informações estão disponíveis no Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 85.

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