Precisamos (e podemos) reduzir nossa produção de lixo

Por Leo Cesar Melo*

Diariamente produzimos no Brasil, aproximadamente, 215 mil toneladas de lixo, um pouco mais de 1,0 quilo por pessoa. Em um mês são quase 6,5 milhões de toneladas e, ao final do ano, 78,4 milhões de resíduos são colocados nas portas das casas. Esses são dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, feito em 2017, que também ressalta que 91% da produção é coletada, mas somente 56% desse total tem a destinação correta.

Levando em consideração ainda os 9% que sequer são coletados, podemos concluir que, para cada tonelada gerada, 460 quilos são descartados de maneira irregular, o que demonstra um potencial de prejuízo ao meio ambiente.

A primeira coisa a fazer parece um pouco óbvia, que é reduzir a produção de lixo. Será que tudo o que é colocado para destinação final realmente precisa estar ali? No entanto, tenho visto com preocupação o cenário deste mercado de resíduos sólidos no Brasil.

Uma pesquisa que realizamos recentemente sobre gestão de resíduos, com empresas de diferentes setores (mineração, farmacêutico, automotivo, agronegócio, entre outros), revela que para 60% delas o “Aterro Zero”, que tem por objetivo dar uma destinação mais nobre do que aterros e incineradores a pelo menos 90% dos resíduos gerados durante o seu processo produtivo, ainda não é uma meta.

No entanto, os prejuízos vão para além do aspecto ambiental. A pesquisa também mostra que 56% das empresas reconhecem que o desperdício de matéria-prima, água e energia é a principal perda econômica nesse processo. Ou seja, cada vez que sai um caminhão de uma indústria carregado de resíduos, ele leva consigo muito dinheiro.

Serve como um bom exemplo os efluentes industriais de uma indústria alimentícia. Este material, normalmente rico em matéria orgânica, pode passar por tratamento para se tornar água de reuso (impactando os custos com água) e também uma biomassa, que pode ser aproveitada como fertilizante ou ser queimada para gerar energia a partir de um biogás (contribuindo na redução de custos com energia, ou gerando um novo produto para venda). Mas há outras inúmeras alternativas.

Portanto, que tal olhar de maneira diferente para o que se descarta diariamente? Os orgânicos podem ir para uma composteira e se tornar adubo. Plásticos, vidros, papéis e outros materiais recicláveis podem ser destinados a locais que dão o devido tratamento a eles. Com uma simples mudança de perspectiva, podemos levar cada vez mais aquela tonelada diária que geramos para perto do zero.

* Leo Cesar Melo, CEO da Allonda, empresa de engenharia com foco em soluções sustentáveis

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