Questão indígena deve ter destaque na Climate Week de Nova York

A questão Natureza e Indígenas ganharam destaque político e deverão estar presente nos debates da Climate Week, ou Semana Climática, que todo ano acontece na cidade de Nova York paralelamente à Assembleia Geral da ONU. Embora não faça parte do calendário oficial das negociações climáticas das Nações Unidas, ela antecipa a disposição e o apetite das empresas para a conferência do clima (COP26) que acontecerá em novembro no Reino Unido.

Para Marcelo Furtado, professor visitante da Universidade de Columbia e um dos fundadores da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, a importância dos povos indígenas para a preservação da Amazônia – que ainda é um dos grandes sorvedouros naturais de carbono do mundo – tem reconhecimento internacional. “Hoje vivemos uma interação da agenda da biodiversidade, clima e desenvolvimento econômico. Vemos que eram trilhas separadas e que finalmente estão se juntando”, sintetiza Furtado.

Outro tema que deve chamar a atenção são as soluções baseadas na Natureza (SbN). Embora já exista, no âmbito das negociações climáticas, uma discussão muito grande sobre os mecanismos do mercado de carbono, em que há preocupações com salvaguardas para garantir a integridade dos créditos e evitar dupla contagem, e outros problemas. A partir deste debate, começa a emergir a preocupação com o que podem ser os aprendizados para pagamentos pelos serviços da natureza. Garantir a operação de nossa economia respeitando os limites planetários e atuando sobre uma base socialmente justa, não é preocupação apenas de ambientalistas: como os desajustes nas cadeias de suprimentos provocados pela pandemia mostraram, a escassez de matérias primas é um dos mais graves riscos às empresas e aos seus investidores.

Nesse contexto, a Climate Week assume também contornos de ativismo dos investidores. “No caso do desmatamento, por exemplo, os investidores começaram a pressionar governos e empresas pelo fim do desmatamento como um todo, e não apenas do desmatamento ilegal. Eles querem que os governos assumam planos públicos e transparentes de descarbonização e esta semana teremos um termômetro do quanto as empresas estão engajadas”, explica Furtado.

A justiça climática, especialmente a questão racial, também deve ter relevância nos debates climáticos devido ao crescente reconhecimento de que o racismo está presente nas questões climáticas. A leitura mais tradicional sobre justiça climática diz respeito à falta de condição de países pobres para mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Há, no entanto, uma interpretação mais contemporânea, que é a desigualdade social encontrada nas políticas climáticas em países pobres ou ricos. A desigualdade promove maior vulnerabilidade, como nas periferias das grandes cidades onde negros e pobres estão mais expostos a eventos extremos. Os governos, assim, enfrentam o desafio de abordar a discussão do clima com uma visão sistêmica, incluindo as questões sociais, raciais e econômicas.

Neste item, há também a questão da transição justa. Ela já é uma realidade nas regiões produtoras de carvão, que cada vez mais é substituída por fontes de energia mais limpas. Mas essa transição irá acontecer em outros setores, como na pecuária, por exemplo, com a redução no consumo de carne ou proteína animal. O futuro da proteína passa pelas agricultura mais eficiente, laboratórios, fermentação sintética, etc. Neste cenário, como fica o trabalhador da pecuária? Fazer uma transição do sistema alimentar é inevitável, entretanto é fundamental que seja feita com justiça e inclusão.

A Climate Week acontece de 20 a 26 de setembro em Nova York. A Coalizão Brasil participará promovendo o debate “Redes pelo clima: iniciativas do setor privado e da sociedade civil na agenda da sustentabilidade”. Além de Marcelo Furtado, o evento contará com a participação de Roberto Waack, da Concertação pela Amazônia; Daniela Mariuzzo, The Sustainable Trade Initiative; Felipe Carazo, FACT Dialogue; Florian Reber, 1t.org; e Rebeca Lima, Alliance For Climate Action – ACA. A moderação será de Fabiola Zerbini, da Tropical Forest Alliance – TFA. O evento será transmitido em inglês português pelo canal de YouTube da Coalizão Brasil no dia 22 de setembro, das 16h30 às 18h (horário de Brasília).

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