O crescimento exponencial das “megaconstelações” de satélites pode comprometer a recuperação da camada de ozônio da Terra. De acordo com um estudo recente publicado na Geophysical Research Letters, a queima de satélites em reentrada na atmosfera libera partículas de óxido de alumínio que corroem o ozônio, ameaçando reverter os avanços obtidos desde a implementação do Protocolo de Montreal.
Impacto das “Megaconstelações” na Atmosfera
Nos últimos anos, milhares de satélites foram lançados em órbita baixa da Terra para atender à crescente demanda por serviços globais de internet. A SpaceX, pioneira nessa tecnologia com sua rede Starlink, lançou cerca de 6.000 satélites e planeja lançar outros 12.000, com um número potencial de até 42.000 no futuro. Outras empresas, como a Amazon, também estão seguindo essa tendência, com planos para lançar constelações de satélites que variam de 3.000 a 13.000 unidades.
Esses satélites possuem uma vida útil curta, aproximadamente cinco anos, após os quais eles reentram na atmosfera e queimam, liberando óxidos de alumínio. Esses poluentes, anteriormente negligenciados, são agora reconhecidos como uma séria ameaça à camada de ozônio. Desde 2016, a quantidade de óxidos de alumínio na atmosfera aumentou oito vezes, segundo o estudo da Universidade do Sul da Califórnia (USC).
Desafios para a Camada de Ozônio
A camada de ozônio, vital para a proteção da Terra contra a radiação ultravioleta (UV) prejudicial, estava se recuperando graças aos esforços globais para eliminar os clorofluorocarbonetos (CFCs). No entanto, os óxidos de alumínio desencadeiam reações químicas que destroem o ozônio estratosférico, exacerbando o problema. Essas partículas de alumínio não reagem diretamente com o ozônio, mas promovem reações destrutivas envolvendo o cloro, resultando na contínua degradação do ozônio.
Estudo Inovador e Suas Descobertas
O estudo, liderado pelo pesquisador Joseph Wang, da USC, é o primeiro a fornecer uma estimativa detalhada da poluição causada pelos satélites em reentrada. A equipe analisou a composição química e os processos moleculares dos satélites ao queimarem na atmosfera. Em 2022, a queima de satélites aumentou a presença de alumínio na atmosfera em 29,5% em relação aos níveis naturais.
A pesquisa revelou que um satélite típico de 250 kg, com 30% de sua massa constituída de alumínio, gera aproximadamente 30 kg de nanopartículas de óxido de alumínio durante a reentrada. Essas partículas se formam principalmente na mesosfera, entre 50 e 85 quilômetros acima da Terra, e podem levar até 30 anos para descerem até a estratosfera, onde a maior parte do ozônio está localizada.
Projeções Futuras e Ações Necessárias
Com a conclusão das atuais constelações de satélites planejadas, estima-se que cerca de 912 toneladas métricas de alumínio serão lançadas anualmente na atmosfera, resultando na emissão de 360 toneladas métricas de óxidos de alumínio a cada ano. Esse aumento representa um crescimento alarmante de 646% em relação aos níveis naturais de alumínio na atmosfera.
Dada a longa persistência desses óxidos na atmosfera e seu potencial para danificar a camada de ozônio, é crucial que se tomem medidas para mitigar esses impactos. Wang enfatiza que, apenas recentemente, a comunidade científica começou a perceber a gravidade desse problema. Ele ressalta a importância de continuar a investigar e desenvolver tecnologias que possam reduzir a poluição causada pela reentrada de satélites.
O Desafio das “Megaconstelações”
A pesquisa destaca a necessidade urgente de equilibrar o avanço tecnológico com a sustentabilidade ambiental. A expansão das “megaconstelações” de satélites, se não for gerida de forma responsável, pode colocar em risco os esforços globais para proteger a camada de ozônio e, por extensão, a saúde do nosso planeta.
Fonte: União Geofísica Americana