Tragédia de Beirute: medidas simples de prevenção e fiscalização são essenciais para evitar e minimizar riscos

*Por Felipe Melo, engenheiro e presidente da Associação Brasileira de Sprinklers (ABSpk)

No último dia 4 de agosto, uma explosão de grandes proporções atingiu Beirute, capital do Líbano, em meio a uma pandemia.  A tragédia que deixou, até agora, mais de 100 mortos foi causada pela combinação de quantidade e armazenamento errôneo de Nitrato de Amônio, substância muito comum em explosivos e fertilizantes, e um incêndio no galpão ao lado.

De acordo com as informações das autoridades locais podemos concluir que o ocorrido poderia ter sido evitado. Em situações como esta, onde ocorre armazenagem de substâncias perigosas, existem normas internacionais que devem ser seguidas, como:

  • Limitação da quantidade de produto armazenada no mesmo local;
  • Compartimentação entre as áreas, ou seja, criar uma resistência para, eventualmente, não atingir todo conteúdo armazenado;
  • Ventilação, o que é muito importante para impedir o acumulo de gases tóxicos e/ou inflamáveis;
  • Espaçamento de vias públicas e da população em geral.
  • Instalação de dispositivos de prevenção e controle de incêndios (sprinklers)

É sabido que Nitrato de Amônio, por si só, não é um produto inflamável. No entanto, quando aquecido, libera uma substância gasosa que, em concentração com o oxigênio, pode ignizar e, dependendo da concentração, ventilação e confinamento, causar uma explosão como a ocorrida em Beirute.

É de suma importância também prestar atenção nas características do galpão que gerou o aquecimento com um incêndio, ocasionando a reação do oxidante. A partir daí, entramos em outra questão: e se esse galpão não tivesse pegado fogo?

Existem meios de prevenir esses incêndios, como o uso dos sprinklers. Um sistema fixo, automático, conhecido mundialmente pela sua eficiência em controlar um incêndio no início, que poderia ter suprimido ou controlado as chamas. Medidas de proteção existem, mas necessitamos urgentemente de cuidados antecipados para prevenir tragédias anunciadas como a de Beirute. Eventos parecidos com o ocorrido no Líbano já aconteceram nos Estados Unidos e França, em 1947 e China, em 1998.

Vale ressaltar que o Brasil é um grande importador de Nitrato de Amônio para a indústria de fertilizantes, importando cerca de 1 milhão de toneladas por ano. Aqui, o exército acompanha e regula de perto a substância.  Sua armazenagem é muito cara, por isso, fica o mínimo de tempo possível estocado. Entretanto, em 2017, a única fábrica no Brasil responsável pela manipulação da substância, localizada em Cubatão, sofreu um grande incêndio. Na época, houve vazamento de nitrato de amônio e ácido sulfúrico na atmosfera.

A partir de todos os incidentes com substâncias perigosas, principalmente em decorrência de incêndios, podemos concluir que as medidas internacionais de segurança devem ser seguidas e fiscalizadas, afinal, elas existem para prevenir perdas materiais, danos ao meio ambiente e, acima de tudo, perdas de vidas.